Explicações Pe. Lodi:
«Deus Pai ajuntou todas as águas e denominou-as mar; reuniu todas as suas graças e chamou-as Maria. Este grande Deus tem um tesouro, um depósito riquíssimo onde encerrou tudo o que á de belo, brilhante, raro e precioso, até seu próprio Filho: e este tesouro imenso é Maria, que os anjos chamam o tesouro do Senhor, e de cuja plenitude os homens se enriquecem» (Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, n°23)
Deus não encontrou um lugar mais seguro para depositar seu Filho do que Maria.
Deus não encontrou um lugar mais apropriado para fazer o seu Filho crescer do que Maria.
Maria é o lugar onde o Filho de Deus cresceu, e cresceu com segurança.
Maria é o banco onde devemos depositar nossos talentos, para que eles cresçam, e cresçam com segurança. (sobre talentos, ler Mt 25,14-30)
Se não entregamos a Maria nosso tesouro de graças, talvez sozinhos não consigamos fazê-lo crescer. Talvez, na tentativa de multiplicar a graça, acabemos perdendo a que tínhamos. Talvez sejamos enganados e roubados pelos ladrões.
Mas em Maria nosso tesouro está seguro.
São Luís Montfort deseja que nós nos entreguemos a Maria como escravos. Para quê? Para que assim possamos nos entregar como escravos a Jesus.
É claro que a palavra escravidão lembra-nos opressão, abuso de direitos, injustiça. Mas São Luís não quer que nos escravizemos a ninguém deste mundo. Ele propõe que nos entreguemos como escravos a Jesus, o Rei dos reis e o Senhor dos senhores. E para que esta entrega seja perfeita, ele nos ensina o caminho: Maria. A escravidão a Maria é doce, pois Ela trata com um carinho maravilhoso a seus filhos que de tudo se despojaram para servi-la.
– Entregar-se a Maria é esquecer-se de Deus?
De jeito nenhum. Se fosse assim, Jesus, ao entregar-se a Maria, teria esquecido a Deus, seu Pai. E isto ele não fez. Veio ao mundo para cumprir a vontade do Pai (Hb 10,5-7).
– Louvar a Maria é deixar de louvar a Deus?
Nunca! Quando Maria foi louvada pelo anjo, que a chamou «cheia de graça», ela se humilhou e disse: «Eis a escrava do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lc 1,38).
Quando Maria foi louvada por Isabel, sua prima, que cheia do Espírito Santo a chamou «bendita entre as mulheres», «Mãe do meu Senhor», «feliz por ter acreditado, ela imediatamente transferiu estes louvores a Deus com o cântico Magnificat (Lc 1,46-55).
Maria é como um rio. Não consegue reter as águas, mas lança-as todas ao mar. Ela não guarda para si nenhum de seus louvores. Entrega-os todos a Deus.
Quanto mais o rio se encher de água, mais o mar se encherá. Quanto mais louvarmos a Maria, mais estaremos louvando a Deus.
A consagração a Maria, proposta por São Luis, é algo de especial, que não se faz sem mesmo quando alguém se consagra a Deus como sacerdote, religioso ou religiosa.
Aqueles que entram numa ordem ou congregação religiosa fazem três votos:
– o voto de obediência, pelo qual renunciam à vontade própria;
– o voto de castidade, pelo qual renunciam ao matrimônio para viver na continência perfeita;
– o voto de pobreza, pelo qual renunciam à posse de bens materiais.
Algumas congregações fazem ainda o voto de clausura, pelo qual os religiosos renunciam à liberdade de locomoção.
Mas, via de regra, nem os religiosos renunciam ao que têm de mais precioso e caro: os mértios de suas boas obras.
Por exemplo, você pode fazer um dia de jejum e oferecer a Deus pelas almas do purgatório. Pode comungar e oferecer a Santa Comunhão pela conversão dos pecadores. Pode dar uma esmola e oferecer essa boa obra pelos governantes do país. Em resumo: suas obras são suas, seus méritos são seus e você pode aplicá-los na intenção que quiser.
Mas na consagração a Maria como ensina São Luis, você não pode mais dispor do valor de suas boas ações. Tudo é entregue a Ela.
Uma comparação
Suponhamos que você trabalhe numa confeitaria e saiba fazer bolos. Depois de prontos, você reparte os bolos para quem quiser. Cada qual recebe uma fatia segundo a sua vontade.
O bolo representa o valor de suas boas obras. Você pode aplicá-las por quem quiser. Durante o dia você pode oferecer a Santa Missa por uma alma do purgatório, um terço pela conversão de um pecador e uma esmola pela saúde de sua mãe. As boas obras são suas e você as reparte segundo a sua vontade.
Consagrando-se a Maria como escravo, suas boas obras não serão mais suas, e você não terá o direito de repartir seus méritos. Tudo será entregue a Maria, para que ela divida como lhe agradar.
Você continuará fabricando seus bolos, mas os entregará todos a Maria. E será ela que vai decidir quem receberá as fatias e que tamanho cada fatia terá.
Um segredo: quando você entrega o bolo a Ela, Ela o faz crescer com suas mãos puríssimas. E assim as fatias aumentam de tamanho!
Excertos de «O «livro de ouro» ao alcance de todos», de Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz