INTRODUÇÃO
A fórmula de “Consagração Total a Jesus por Maria” de São Luís Maria Grignion de Monfort, não deve ser tomada rapidamente. Isto fica provado pelo fato do mesmo Santo advogar uma séria preparação, que consiste em doze dias preliminares, para que a alma trate de esvaziar-se do espírito do mundo, que é totalmente o oposto do Espírito de Jesus Cristo. A estes doze dias, seguirão três semanas de oração e meditação, durante as quais a alma buscará um melhor conhecimento de si mesma (primeira semana), de Maria (segunda semana) e de Jesus Cristo (terceira semana).
Veja uma apresentação sobre a Consagração Total e
Consagração Total a Jesus por Maria
Este material foi preparado pelo ANE Internacional e traduzido pelo ANE Brasil.
PRIMEIRA PARTE
OS DOZE DIAS PRELIMINARES
TEMA: O ESPÍRITO DO MUNDO
Examine sua consciência, reze, pratique a renúncia à sua própria vontade; mortificação, pureza de coração. Esta pureza é a condição indispensável para contemplar a Deus no céu, vê-lo na terra e conhecê-lo à luz da fé.
A primeira parte da preparação deverá ser empregada em esvaziar-se do espírito do mundo, que é contrário ao Espírito de Jesus Cristo. O espírito do mundo consiste, em essência, na negação do domínio supremo de Deus, negação que se manifesta na prática do pecado e na desobediência; portanto, é totalmente oposto ao Espírito de Jesus Cristo, que é também o de Maria.
Isto se manifesta pela concupiscência da carne, pela concupiscência dos olhos e pelo orgulho como norma de vida, assim como pela desobediência às leis de Deus e o abuso das coisas criadas. Suas obras são o pecado em todas as suas formas; conseqüentemente, tudo aquilo pelo que o demônio nos leva ao pecado; obras que conduzem ao erro e à escuridão da mente e sedução e corrupção da vontade. Suas presunções são o esplendor e as artimanhas empregadas pelo demônio para fazer com que o pecado seja deleitoso nas pessoas, lugares e coisas.
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Orações para todos os dias
Vinde, Espírito Criador
Vem, ó Criador Espírito,
As almas dos teus visita;
Os corações que criaste
Enche de graça infinita.
Tu paráclito és chamado,
Dom do Pai Celestial,
Fogo, caridade, fonte
Viva e unção espiritual.
Tu dás septiforme graça;
Dedo és da destra paterna;
Do Pai, solene promessa,
Dás força da voz superna.
Nossa razão esclarece,
Teu amor no peito acende,
Do nosso corpo a fraqueza
Com tua força defende.
De nós afasta o inimigo,
Dá-nos a paz sem demora,
Guiai-nos; e evitaremos
Tudo quanto se deplora.
Dá que Deus Pai e seu Filho
Por ti nós bem conheçamos
E em ti, Espírito de ambos,
Em todo tempo creiamos.
A Deus Pai se dê a glória
E ao Filho ressuscitado,
Paráclito e a ti também
Com louvor perpetuado.
Amém.
Enviai o vosso Espírito, e tudo será criado
E renovareis a face da Terra
Oremos: Ó Deus, que instruístes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, concedei-nos que no mesmo Espírito conheçamos o que é reto, e gozemos sempre as suas consolações. Por Cristo Nosso Senhor. Amém.
Ave, Estrela do Mar
Ave do mar Estrela,
De Deus Mãe bela,
Sempre Virgem, da morada
Celeste feliz entrada.
Ó tu que ouviste da boca
Do anjo a saudação;
Dá-nos paz e quietação;
E o nome de Eva troca.
As prisões a os réus desata
E a nós, cegos, alumia;
De tudo que nos maltrata
Nos livra, o bem nos granjeia.
Que os rogos do povo seu
Ouça aquele que, nascendo
Por nós, quis ser Filho teu.
Ó Virgem especiosa,
Toda cheia de ternura,
Extintos nossos pecados,
Dá-nos pureza e brandura.
Dá-nos uma vida pura,
Põe-nos em via segura,
Para que a Jesus gozemos,
E sempre nos alegremos.
A Deus Pai veneremos;
A Jesus Cristo também,
E ao Espírito Santo; demos
Aos três louvor. Amém.
Magnificat
Minha alma engrandece o Senhor,
e meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador,
porque olhou para a humilhação de sua serva.
Sim! Doravante as gerações todas me chamarão de bem-aventurada,
pois o Todo-poderoso fez grandes coisas em meu favor.
Seu nome é santo
e sua misericórdia perdura de geração em geração,
para aqueles que o temem.
Agiu com a força de seu braço,
dispersou os homens de coração orgulhoso.
Depôs poderosos de seus tronos,
e a humildes exaltou.
Cumulou de bens a famintos
e despediu ricos de mãos vazias.
Socorreu Israel, seu servo,
lembrado de sua misericórdia
– conforme prometera a nossos pais –
em favor de Abraão e de sua descendência
para sempre!
1º DIA
(fazer primeiro as orações)
Vendo aquelas multidões, Jesus subiu à montanha. Sentou-se e seus discípulos aproximaram-se dele.
Então abriu a boca e lhes ensinava, dizendo:
Bem-aventurados os que têm um coração de pobre, porque deles é o Reino dos céus!
Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados!
Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra!
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados!
Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia!
Bem-aventurados os puros de coração, porque verão Deus!
Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus!
Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos céus!
Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e disserem falsamente todo o mal contra vós por causa de mim.
Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois assim perseguiram os profetas que vieram antes de vós.
Vós sois o sal da terra. Se o sal perde o sabor, com que lhe será restituído o sabor? Para nada mais serve senão para ser lançado fora e calcado pelos homens.
Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre uma montanha nem se acende uma luz para colocá-la debaixo do alqueire, mas sim para colocá-la sobre o candeeiro, a fim de que brilhe a todos os que estão em casa.
Assim, brilhe vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus.
Não julgueis que vim abolir a lei ou os profetas. Não vim para os abolir, mas sim para levá-los à perfeição.
Pois em verdade vos digo: passará o céu e a terra, antes que desapareça um jota, um traço da lei.
Aquele que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e ensinar assim aos homens, será declarado o menor no Reino dos céus. Mas aquele que os guardar e os ensinar será declarado grande no Reino dos céus. (Mt 5,1-19)
2º DIA
(fazer primeiro as orações)
Portanto, sede perfeitos, assim como vosso Pai celeste é perfeito.
Guardai-vos de fazer vossas boas obras diante dos homens, para serdes vistos por eles. Do contrário, não tereis recompensa junto de vosso Pai que está no céu.
Quando, pois, dás esmola, não toques a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem louvados pelos homens. Em verdade eu vos digo: já receberam sua recompensa.
Quando deres esmola, que tua mão esquerda não saiba o que fez a direita.
Assim, a tua esmola se fará em segredo; e teu Pai, que vê o escondido, recompensar-te-á.
Quando orardes, não façais como os hipócritas, que gostam de orar de pé nas sinagogas e nas esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade eu vos digo: já receberam sua recompensa.
Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo; e teu Pai, que vê num lugar oculto, recompensar-te-á.
Nas vossas orações, não multipliqueis as palavras, como fazem os pagãos que julgam que serão ouvidos à força de palavras.
Não os imiteis, porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes que vós lho peçais.
Eis como deveis rezar: PAI NOSSO, que estais no céu, santificado seja o vosso nome; venha a nós o vosso Reino; seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu.
O pão nosso de cada dia nos dai hoje; perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos aos que nos ofenderam; e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal.
Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, vosso Pai celeste também vos perdoará.
Mas se não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai vos perdoará. (Mt 5,48;6,1-15)
3º DIA
(fazer primeiro as orações)
Não julgueis, e não sereis julgados.
Porque do mesmo modo que julgardes, sereis também vós julgados e, com a medida com que tiverdes medido, também vós sereis medidos.
Por que olhas a palha que está no olho do teu irmão e não vês a trave que está no teu?
Como ousas dizer a teu irmão: Deixa-me tirar a palha do teu olho, quando tens uma trave no teu?
Hipócrita! Tira primeiro a trave de teu olho e assim verás para tirar a palha do olho do teu irmão.
Não lanceis aos cães as coisas santas, não atireis aos porcos as vossas pérolas, para que não as calquem com os seus pés, e, voltando-se contra vós, vos despedacem.
Pedi e se vos dará. Buscai e achareis. Batei e vos será aberto.
Porque todo aquele que pede, recebe. Quem busca, acha. A quem bate, abrir-se-á.
Quem dentre vós dará uma pedra a seu filho, se este lhe pedir pão?
E, se lhe pedir um peixe, dar-lhe-á uma serpente?
Se vós, pois, que sois maus, sabeis dar boas coisas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai celeste dará boas coisas aos que lhe pedirem.
Tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles. Esta é a lei e os profetas.
Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduzem à perdição e numerosos são os que por aí entram.
Estreita, porém, é a porta e apertado o caminho da vida e raros são os que o encontram. (Mt 7,1-14)
4º DIA
(fazer primeiro as orações)
Que o homem de si nada tem de bom, nem coisa alguma de que gloriar-se
Senhor, que é o homem, para que Vos lembreis dele? E que é o filho do homem, para que o visiteis? (Sl 8,5)
Que merecimento tinha o homem para que lhe désses vossa graça?
De que poderei queixar-me, Senhor, se me desamparardes? Ou que terei justamente que dizer se não fizerdes o que eu peço?
Por certo que não posso pensar, nem dizer com verdade, senão isto: “Nada sou, Senhor, nada posso, nada de bom tenho de mim, de tudo que é bom acho-me vazio” e caminho sempre para o nada.
E se não for ajudado e fortalecido interiormente por Vós, para logo cairei na tibieza e dissipação.
“Vós porém, Senhor, sempre sois o mesmo e permaneceis eternamente bom, justo e santo, agindo sempre com bondade, com justiça e santidade, e ordenando tudo com sabedoria” (Sl 101,27).
Mas eu, que mais pendo para o mal que para o bem, não persevero muito tempo no mesmo estado e mudo muitas vezes no dia.
Contudo, logo me acho menos fraco quando vos dignais estender-me vossa mão auxiliadora; porque Vós só, sem humano favor, me podeis socorrer e fortificar, de tal sorte que não esteja jamais sujeito a todas essas mudanças, e meu coração só para Vós se converta, e em Vós só descanse para sempre. (Imitação de Cristo, Livro III, capítulo XL, 1-2)
Quem se considera mui seguro em tempo de paz se achará tímido e covarde em tempo de guerra.
Se souberas viver sempre humilde e pequeno no teu conceito, contendo-te nos limites duma justa moderação, não cairias tão depressa na tentação e no pecado.
Quando te achares penetrado dum grande fervor de espírito, é bem que medites no que será de ti, retirando-se esta graça. (Imitação de Cristo, Livro III, capítulo VII, 4)
5º DIA
(fazer primeiro as orações)
Se eu bem soubesse desprezar todas as consolações humanas, já para adquirir o santo fervor, já pela infeliz necessidade que me obriga a buscar em Vós a verdadeira consolação que nenhum homem pode dar-me, então teria eu grande motivo para esperar com razão vossa graça e para alegrar-me com o dom duma nova consolação.
Graças Vos dou, Senhor, por serdes a fonte de que dimana todo o bem que me sucede.
Eu, homem inconstante e frágil, não sou na vossa presença mais que um nada e uma pura vaidade. De que posso eu pois gloriar-me, ou com que motivo desejo ser estimado?
Acaso por ser um nada? Porém que coisa mais insensata e vaidosa!
A vã glória é, na verdade, uma peste detestável e um mal terrível, porque nos aparta da verdadeira glória e nos despoja da graça celestial.
Desde que o homem se compraz em si mesmo, começa a desagradar-Vos; e logo que aspira aos louvores humanos, perde a verdadeira virtude.
A verdadeira glória e a santa alegria consistem em gloriar-se cada um em Vós e não em si; em alegrar-se de vossa grandeza e não de sua própria virtude; em não achar prazer em criatura alguma senão por amor de Vós.
Seja louvado vosso nome e não o meu; engrandecidas sejam vossas obras e não as minhas. Louvem e abençoem todos os homens a vossa grandeza e nada participe eu de seus louvores.
Vós sois minha glória, Vós sois a alegria de meu coração. Todo o dia me gloriarei e alegrarei em vós; pois em minha nada tenho em que gloriar-me, “senão em minhas fraquezas” (2 Cor 12,5) (Imitação de Cristo, Livro III, capítulo XL, 3-5)
6º DIA
(fazer primeiro as orações)
Do exemplo dos Santos Padres.
Considera bem os heróicos exemplos dos Santos Padres, nos quais resplandece a verdadeira perfeição da vida religiosa, e verás quão pouco ou nada é o que fazemos.
Ai de nós! Que é a nossa vida, comparada com a deles?
Os santos e amigos de Cristo serviram ao Senhor em fome, em sede, em frio e nudez, em trabalhos, em fadigas, em vigílias e jejuns, em rezas e santas meditações, em perseguições e muitos opróbrios.
Oh! quantas e quão graves tribulações padeceram os apóstolos, os mártires, os confessores, as virgens, e todos os demais que quiseram seguir as pisadas de Cristo! “Pois aborreceram neste mundo suas vidas para as possuírem na eternidade” (Jo 12,25).
Que vida de renúncia e austeridade foi a dos Santos Padres no deserto! Que longas e graves tentações padeceram! Quantas vezes foram atormentados pelo inimigo! Quão fervorosas e contínuas orações ofereceram a Deus! Quão rigorosas abstinências praticaram! Que zelo, que ardor em seu aproveitamento espiritual! Que forte guerra contra suas paixões! Que intenção pura e reta sempre dirigida para Deus!
De dia trabalhavam e passavam as noites em larga oração; ainda que trabalhando, não interrompiam a sua oração mental.
Todo o tempo gastavam santamente: as horas lhes pareciam curtas para se darem a Deus; e pela grande doçura da contemplação se esqueciam da necessária refeição do corpo.
Renunciavam todas as riquezas, honras, dignidades, parentes e amigos: nada queriam do mundo; apenas tomavam o necessário para a vida, e lhes era pesado servir ao corpo ainda nas coisas necessárias.
De modo que eram pobres das coisas da terra, porém riquíssimos de graça e virtudes. (Imitação de Cristo, Livro I, capítulo XVIII, 1-3)
7º DIA
(fazer primeiro as orações)
No exterior tudo lhes faltava; mas interiormente Deus os fortificava com sua graça e recreava com suas consolações.
Eram estranhos ao mundo; mas íntimos e particulares amigos de Deus.
Tinham-se por nada a si mesmos, e o mundo os tratava com desprezo, mas aos olhos de Deus eram preciosos e amados.
Estavam em verdadeira humildade, viviam em singela obediência; por isso cada dia cresciam em espírito e alcançavam muita graça diante de Deus.
Foram dados por exemplo a todos os religiosos; e mais nos devem mover para aproveitarmos no bem, que a multidão dos tíbios para afrouxarmos em nossos exercícios.
Oh! Quão grande foi o fervor de todos os religiosos no princípio dos seus sagrados institutos!
Quanto ardor na oração! Quanto zelo na virtude! Que severidade de disciplina! Como florescia a submissão e obediência à regra do santo fundador!
O que ainda nos resta deles nos atesta a santidade e perfeição daqueles homens insignes que, pelejando esforçadamente, pisaram aos pés o mundo. Agora já se estima em muito aquele que não transgride a regra, e se com paciência pode sofrer algum dissabor.
Oh! tibieza e negligência de nosso estado, que tão depressa declinamos do fervor primitivo, e já nos é molesto o viver em conseqüência da frouxidão e tibieza!
Praza a Deus que, tendo visto tantos exemplos de santos homens, de todo se não acabe em ti o desejo de aproveitar nas virtudes! (Imitação de Cristo, Livro I, capítulo XVIII, 3-6)
8º DIA
(fazer primeiro as orações)
A resistência às tentações.
Enquanto vivemos no mundo, não podemos estar sem trabalhos e tentações.
Por isso está escrito no livro de Jó: “A vida do homem sobre a terra é uma contínua tentação” (7,1).
Cada qual, pois, deve ser muito cuidadoso nas tentações, procurando, vigilante na oração, não dar lugar às ilusões do demônio, “que nunca dorme, nem cessa de andar à roda das almas para as devorar” (1Pd 5,8).
Ninguém há tão santo e tão perfeito, que não tenha algumas vezes tentações, e não podemos viver sem elas.
Se bem que inoportunas e penosas, as tentações são muitas vezes utilíssimas ao homem, porque através delas se humilha, se instrui e se purifica.
Todos os santos passaram por muitas tentações e trabalhos e foi assim que progrediram na santidade.
E os que não quiseram suportá-los, falharam e condenaram-se.
Não há ordem tão santa nem lugar tão retirado onde não haja tentações e adversidades.
Nenhum homem está inteiramente livre de tentações enquanto vive; porque em nós mesmos está a causa donde elas vêm, pois nascemos com inclinação ao pecado.
Passada uma tentação ou tribulação, sobrevém outra, e sempre teremos que sofrer, porque se perdeu o bem de nossa primeira felicidade.
Muitos querem fugir às tentações e caem nelas mais gravemente.
Mas, não é fugindo que podemos vencê-las, porém é com paciência e verdadeira humildade que nos fazemos mais fortes que todos os nossos inimigos.
Quem somente evita as ocasiões exteriores e não arranca o mal pela raiz, pouco aproveitará; antes lhe tornarão mais depressa as tentações e se achará pior que dantes.
Com a ajuda de Deus, mais facilmente vencerás, com paciência e perseverança, do que com teu próprio esforço e fadiga.
Toma muitas vezes conselho na tentação, e não sejas desabrido e áspero como que está tentado, antes procura consolá-lo como quiseras ser consolado.
O princípio de toda a tentação é a inconstância de ânimo e a pouca confiança em Deus.
Como um navio sem leme é levado pelas ondas em todas as direções, assim o homem negligente e inconstante em seus propósitos é tentado de todas as maneiras. (Imitação de Cristo, Livro I, capítulo XIII, 1-5)
9º DIA
(fazer primeiro as orações)
O fogo prova o ferro, e a tentação o justo.
Muitas vezes não sabemos o que podemos; mas a tentação mostra-nos o que somos.
Devemos, pois, vigiar principalmente no princípio da tentação, porque mais facilmente se vence o inimigo quando não o deixamos passar da porta da alma, e lhe saímos ao encontro, logo que bate.
Donde veio dizer um poeta:
Resiste no princípio,
Tarde chega o remédio
Se já, por largo tempo,
O mal lançou raízes.
Porque, primeiramente, se oferece à alma um simples pensamento, podeis, a importuna imaginação, logo o prazer, o movimento desordenado e o consentimento da vontade.
E assim pouco a pouco entra o inimigo e se apodera de tudo, porque se lhe não resistiu no princípio.
E quanto mais preguiçoso for o homem em resistir-lhe, tanto se fará cada dia mais fraco, e o inimigo contra ele mais poderoso.
Alguns padecem graves tentações no princípio de sua conversão, outros, no fim, muitos por toda a vida.
Alguns são tentados brandamente, segundo a sabedoria e a eqüidade da Divina Providência, que pondera o estado e os méritos dos homens, e tudo ordena para a salvação de seus escolhidos.
Por isso, não devemos desconfiar quando formos tentados; mas antes rogar a Deus com maior fervor para que se digne ajudar-nos em toda a atribuição; porque, segundo o dito de São Paulo, “nos dará o auxílio junto com a tentação para que lhe possamos resistir” (1Cor 10,13).
“Humilhemos, pois, nossas almas, debaixo da mão de Deus em toda tribulação e tentação, porque ele há de salvar e engrandecer os humildes de espírito” (Sl 33,19).
É nas tentações e nos reveses que o homem verifica quanto progrediu; por elas maior se torna o mérito, e melhor se revelam as virtudes. (Imitação de Cristo, Livro I, capítulo XIII, 5-7)
10º DIA
(fazer primeiro as orações)
Desprezando-se o mundo, é suave servir a Deus.
Outra vez falarei agora, Senhor, e não me calarei. Direi a meu Deus, meu Senhor e meu Rei, assentado no trono dos céus:
“Ó Senhor, quão grande é a abundância de vossa doçura que reservais para os que Vos temem. O que não será pois para os que Vos amam, e Vos servem de todo o coração?” (Sl 30,20).
Na verdade, são inefáveis as delícias de que inundais os que Vos amam, quando sua alma Vos contempla.
Eis que me mostrastes singularmente a ternura de vosso amor; quando não existia me criastes, quando andava errante me chamastes a Vós para que Vos servisse e me pusestes o doce preceito de Vos amar.
Ó fonte de amor perene! Que direi de Vós? Poderei eu esquecer-me de Vós, que Vos dignastes lembrar-vos de mim, quando eu jazia no abismo da corrupção e da morte?
Usastes de misericórdia com vosso servo sobre toda esperança; e além de todo merecimento me concedestes vossa graça e amizade.
Com que Vos agradecerei, Senhor, um tão singular favor? Porque nem a todos é permitido deixar tudo, renunciar o mundo para abraçar a vida religiosa.
Porventura é grande coisa que eu Vos sirva, quando toda criatura está obrigada a servir-vos?
Conheço que não faço coisa grande em vos servir; mas o que me enche da mais profunda admiração, e que meu conceito parece grande é que vos digneis receber-me ao vosso serviço e unir-me com vossos amados servos, sendo eu tão pobre e tão indigno desta honra.
Vossas são, pois, todas as coisas que tenho, e ainda o serviço que Vos faço é um dom que me concedeis.
Eu devia fazer tudo por vosso amor, e sucede que mais servis Vós a mim do que eu a Vós.
Criastes para o serviço do homem o céu e a ter, que estão sempre em vossa presença e fazem cada dia o que lhes mandais; e isto ainda é pouco, pois até haveis destinado os anjos para o servirem.
Mas não pára aqui vossa bondade infinita, pois Vos dignastes servir ao homem e lhe prometestes que Vos daríeis a ele com toda a vossa glória.
Que vos darei, meu Deus, por tantos milhares de benefícios? Oh! se eu pudesse servir-vos todos os dias de minha vida! Se pudesse ao menos servir-vos dignamente um só dia!
Em verdade só Vós sois digno de ser por todos servido, honrado e louvado eternamente.
Vós sois, na realidade, meu senhor e eu vosso pobre escravo, obrigado a servir-vos com todas as minhas forças, sem jamais me cansar de publicar vossos louvores.
Assim o quero, assim o desejo: dignai-Vos de suprir por vossa graça o que me falta para cumprir este meu desejo.
Que honra, Senhor, que glória não é servir-Vos e desprezar tudo por amor de Vós!
Inúmeras graças receberão aqueles que voluntariamente se sujeitarem a Vós.
Acharão a suavíssima consolação do Espírito Santo os que, por vosso amor, desprezarem todos os atrativos da carne. (Imitação de Cristo, Livro III, capítulo X, 1-50)
11º DIA
(fazer primeiro as orações)
Da fervorosa emenda de toda a nossa vida
Um homem que flutuava muitas vezes, cheio de ansiedade, entre o temor e a segurança, estando um dia oprimido de tristeza, entrou numa igreja e, prostrando-se diante dum altar para fazer sua oração, dizia e repetia consigo mesmo: Oh! se eu soubesse que havia de perseverar! E logo ouviu no íntimo d’alma esta divina resposta: Que farias se isso soubesses? Faze agora o que desejarias fazer e estarás seguro.
E no mesmo instante, consolado e fortalecido, se ofereceu à divina vontade, e cessou sua ansiosa turbação.
Nem quis curiosamente esquadrinhar o que lhe havia de suceder; aplicou-se unicamente a conhecer a vontade de Deus, e o que a seus divinos olhos fosse mais agradável e perfeito para começar a perfazer toda a boa obra.
“Espera no Senhor, diz o Profeta, faze boas obras, habitarás em paz a terra, e serás alimentado com as suas riquezas” (Sl 36,3).
Uma coisa resfria em alguns o ardor de aproveitar e de se emendar: o receio das dificuldades ou o trabalho da peleja.
Certamente aproveitam mais nas virtudes aqueles que com maior empenho trabalham por vencer-se a si mesmos naquilo que lhes é mais penoso e contraria mais as suas inclinações.
Porque o homem tanto mais aproveita e tanto maior graça alcança, quanto mais se vence a si mesmo e se mortifica no espírito.
Porém, nem todos têm igual ânimo para vencer-se e mortificar-se.
Mas o diligente e zeloso imitador de Cristo mais forte será para o seu aproveitamento, ainda que seja combatido de muitas paixões, do que o que tem dom natural, se é menos fervoroso em adquirir as virtudes. (Imitação de Cristo, Livro I, capítulo XXV, 2-4)
12º DIA
(fazer primeiro as orações)
Mas se vires alguma coisa digna de repreensão, guarda-te de fazê-la; e, se em igual falta caíste, procura emendar-te logo dela.
Assim como tu observas os outros, assim também eles te observam.
Oh! que alegre e doce coisa é ver os devotos e fervorosos irmãos com santos costumes e bem disciplinados.
Pelo contrário, que triste e penoso é vê-los andar desordenados, e sem se ocuparem nos compromissos de sua vocação!
Oh! quão nocivo é ser descuidado no propósito de sua vocação, e cuidadoso no que Deus não ordena!
Lembra-te do propósito que tomaste e propõe-te por modelo a Cristo Crucificado.
Com razão te podes envergonhar, considerando a vida de Jesus Cristo, de não ter feito até aqui bastante esforço para te conformares com ela, estando há tanto tempo no caminho de Deus.
O religioso que, devota e cuidadosamente, se exercita a meditar na santíssima vida e dolorosa paixão do Senhor, acha nela com abundância tudo que é útil e necessário para sua santificação: e não precisa buscar coisa nenhuma melhor for a Jesus Cristo.
Oh! se Jesus Crucificado viesse a nosso coração, quão depressa e completamente seríamos ensinados!
O homem fervoroso e diligente está preparado para tudo.
Maior trabalho é resistir aos vícios e paixões, que suar nos trabalhos corporais.
“Quem não evita as faltas pequenas, pouco a pouco cai nas grandes” (Ecl 29,1).
Alegrar-te-ás sempre à noite, se empregares com fruto teu dia.
Vigia sobre ti; exorta-te, admoesta-te; e aconteça o que acontecer aos outros, não te descuides de ti mesmo.
Tanto aproveitarás, quanto for a violência que fizeres a ti mesmo… (Imitação de Cristo, Livro I, capítulo XXV, 5-6.11)